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O que o chão da escola tem revelado?

O chão da escola fala — e fala alto. Todos os dias, ele expõe os efeitos cruéis de uma política educacional que trocou a humanidade pelo mercado. As rachaduras nas paredes, as longas filas da merenda, os auxiliares exaustos, os professores adoecidos e as crianças silenciadas por metas inalcançáveis gritam por atenção. Essa é a realidade imposta pelo avanço do neoliberalismo escolar nas escolas públicas paulistanas. Embora use os termos “eficiência” e “modernização”, esse modelo traz abandono, precarização e violência institucional.

Quando tudo vira número, a escola perde sua alma

Com o neoliberalismo escolar, a lógica de mercado invade os espaços de aprendizagem. A criança deixa de ser vista como sujeito e passa a ser tratada como dado estatístico. O professor se transforma em operador de planilhas. A aprendizagem, por sua vez, é reduzida a gráficos de desempenho. Em vez de promover inclusão e justiça educacional, as políticas públicas se tornam ferramentas de exclusão. Quem não atinge os resultados, portanto, é culpado. E quem ousa questionar esse modelo, inevitavelmente, sofre sanções. Assim, a escola abandona seu papel transformador e passa a operar como fábrica de metas.

Da modernização ao autoritarismo silencioso

Além disso, o avanço do neoliberalismo escolar costuma vir acompanhado de práticas autoritárias. A gestão democrática, por exemplo, se dissolve. Coletivos escolares são desmobilizados. Educadores que exercem seu direito à crítica passam a ser perseguidos. Enquanto isso, o medo substitui o diálogo. A obediência toma o lugar da participação ativa. Dessa forma, a comunidade escolar, que antes protagonizava decisões, acaba relegada à condição de espectadora.

Quem sustenta a escola pública é quem mais sofre

É importante lembrar que os profissionais que garantem o funcionamento das escolas públicas são os mais atingidos. Professores precisam atingir metas inalcançáveis, mesmo sem suporte adequado. Auxiliares técnicos, AVEs e estagiários enfrentam rotinas exaustivas, sem qualquer reconhecimento institucional. Além disso, gestores escolares tentam manter as unidades funcionando, mesmo diante do sucateamento progressivo. No centro de tudo isso estão as crianças — silenciadas, invisibilizadas e tratadas como um custo a ser contido, e não como sujeitos de direitos.

Neoliberalismo escolar: um projeto de desumanização

Portanto, é fundamental afirmar: o neoliberalismo escolar não é apenas um modelo de gestão. Ele representa, acima de tudo, um projeto político de desumanização. Essa lógica atinge tanto as estruturas físicas quanto as subjetividades de quem faz a escola acontecer. Impõe produtividade acima da dignidade. Normaliza desigualdades históricas. Substitui a solidariedade pela competição. E, ainda mais grave, retira do Estado a responsabilidade constitucional de garantir educação pública, gratuita e de qualidade para todos.

A escola resiste — e continuará resistindo

Contudo, mesmo diante de tantos retrocessos, a escola continua sendo um espaço de resistência. Toda sala de aula que cultiva pensamento crítico, cada projeto pedagógico que valoriza a escuta, o afeto e a participação comunitária, e cada educador que insiste em enxergar a criança como sujeito integral realiza, sem dúvida, um ato de enfrentamento. A escola não é uma empresa. A criança não é um número. O professor não é uma máquina.

O chão da escola, mesmo ferido, segue fértil. É nele que germina a esperança. É nele que, todos os dias, educadoras e educadores escrevem o futuro que desejamos — um futuro em que a educação pública, democrática e de qualidade seja, de fato, garantida a todas as crianças.